gustavo

16 de junho de 2011

Deputados, ministros e o discurso do possível...

Nesta quarta, 15, estive pela primeira vez na Câmara dos Deputados, em Brasília. Acompanhei duas atividades: uma reunião da Comissão de Educação e Cultura e a audiência pública com o ministro da Educação, Fernando Haddad, sobre o Plano Nacional de Educação (PNE). Nas duas, eu e meus colegas nos esforçamos para conseguir falar diretamente aos deputados e principalmente ao ministro, para deixá-los cientes das reivindicações d@s trabalhadores em educação, mas, infelizmente, não me foi dado espaço. Havia um “impeditivo regimental”...

Mesmo assim, entregamos o manifesto da CSP–Conlutas que defende de forma explícita os 10% do PIB já para a Educação, abrimos uma faixa e tive a oportunidade de conceder algumas entrevistas, nas quais apresentei contrapontos ao PNE do governo.

Depois de um dia no Congresso, o que me chamou a atenção foram as "preocupações" dos legisladores e do ministro, que “cuidam” da educação brasileira. É espantosa a forma como se apegam e se utilizam das barreiras legais que estariam impedindo que o investimento na educação aumentasse. Cria-se uma verdadeira armadilha de palavras para justificar o injustificável. Até poderia acreditar nessas tais barreiras, não soubesse que são eles mesmos os responsáveis por elaborar as leis, com autonomia para aprovar, vetar e fazer o que bem entendem. Desde que seja de seu interesse, é claro...

Mas a principal "barreira" apresentada é a de sempre, a econômica. Nesse ponto, o próprio relator do projeto, o deputado do PT Ângelo Vanhoni, demonstrou falta de propriedade para tratar do tema, questionando “de onde sairia o dinheiro” e estabelecendo um lamentável “jogo de empurra” entre municípios, estados e a União.

Em todas as falas ficou nítida a idéia de que exigir investimento imediato de 10% do PIB na educação é "inconseqüente" e "irresponsável". O minsitro Haddad defendeu o investimento de 7%, apresentando isso como suficiente para cumprir as metas previstas no PNE. Muito embora estudos demonstrem que somente com 10% alcançaremos um patamar razoável no que se refere à qualidade da educação. Até mesmo deputados da base governista reconhecem que esse investimento não é suficiente.

Ontem, o próprio ministro declarou que “o ideal” e o que ele “queria” era o investimento de 10%. Mas que não era uma decisão dele, que é preciso analisar o impacto no Orçamento, falou em mais R$ 80 bilhões por ano, que esta foi uma proposta da presidente eleita, etc. Terminou lavando as mãos, como se não tivesse poder de decisão, como se fosse mais um "garçom" no governo (desculpem-me os garçons). Questionado sobre se seria possível aumentar as verbas, respondeu: "Essa pergunta não tem de ser feita para mim".

Infelizmente, noss@s ilustres deputad@s e o ministro analisam a educação pelo viés da viabilidade e da possibilidade, estabelecidas por eles mesmos, em seus acordos, metas e superávits. Nós, educadores, nos guiamos pelo viés da urgência, pelas necessidades que conhecemos tão bem, dentro das nossas realidades, das escolas.

É por isso que não queremos menos do que 10% do PIB, porque esse é o mínimo necessário. Tampouco queremos que esse patamar seja alcançado sabe-se lá quando.. "Até 2020", pode parecer um prazo curto. Mas é praticamente o mesmo tempo que uma geração leva dentro das escolas. Esse tempo faz muita diferença, TODA a diferença para estes milhões de alunos. Decide se eles vão sair tendo aprendido ou não, se apenas seguirão atravessando os anos, sendo aprovados automaticamente com mecanismos criados para que os números possam disfarçar o que vemos em sala de aula.

Somos irresponsáveis por querer os 10% já? Não acredito que sejamos. Não é difícil constatar que irresponsáveis são tod@s aqueles (as) governantes e deputados que, tendo nas mãos o dever e a oportunidade de transformar a educação no país, permitem que escolas funcionem nas condições atuais e que nós trabalhemos nesse contexto caótico em troca de um salário que mal garante nosso sustento.

Apesar de todas as “dificuldades” apresentadas pelas autoridades, continuamos na firme defesa dos 10% do PIB, e para que sejam garantidas todas as condições para que ele seja viabilizado. Nesse momento, só há duas bancadas na Câmara Federal, a dos 10% do PIB já e a do analfabetismo funcional. É bom que os deputados decidam qual é a sua, sabendo que estamos atent@s às suas posições. E que depois, não adiantará repetir o discurso gasto de que a educação é a prioridade e que o professor deve ser respeitado. Estamos descobrindo que, só com a nossa luta, poderemos mudar a educação e nos fazer respeitar.

12 comentários:

Serginho disse...

devia ter feito um vídeo com a resposta dos deputados, o "impeditivo de normas" sua opiniao e etc. tem que aproveitar mais os vídeos, tem mais impacto.
A juventude, pais e professores acharam muito massa o que vc fez no RN, mas sinceramente, nem os professores tem hábito de ler, mesmo com esse texto fácil e atrativo não tem o mesmo impacto que um vídeo. o video é mais preguiçoso, por isso tem um alcance maior.

Fica a dica e abraços!

Juraci disse...

Não é que não temos hábito de ler, é que não temos tempo pq temos que fazer jornadas duplas e triplas em escolas, acaba que só lemos as redações dos alunos, cadernos, diários, leitura sobre os cursos de formação continuada, e outras normativas de escola, outros textos, de interesse da categoria ficam esquecidos e assim vamos perdendo nossa dignidade , vergonha, carater, e tudo o mais que um ser humano deve ter p/ ser valorizado em uma sociedade justa.

Anita disse...

Realmente existe falta de tempo sim mas existe tambem acomodaçao. Eu trabalho a tarde na E.M.E. Nestor Lima em Parnamirim alem de ter apenas dois professores em greve o restante fica ridicularizando os colegas. Tem uns que sao tao despreparados que fico imaginando o tipo de ser humano que estao formando.

Iva disse...

Oi Amanda, parabésn pela sua luta, pela sua coragem. É mais conveniente para os políticos manter a segunda opção: manter o "analfabetimo funcional" é mais prático tb pra eles. O que poderíamos fazer? será que só pelo voto? não acredito muito...

Neve disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Neve disse...

Amanda, sou professora no estado de São Paulo (quase aposentada) mas sou natural do RN. Me orgulho muito de você e de sua postura política. Parabéns e não esmoreça.

Anônimo disse...

Parabéns, Amanda. Você nos enche de orgulho, pois sabemos que a classe política só se interessa pelo que dá Ibope. A Educação sempre ficou em segundo, terceiro plano... Como você mesma disse, a Educação nunca foi prioridade neste país. Tenho certeza que todas as pessoas de bem, não só os educadores, estão ao seu lado contra a hipocrisia e os desmandos na Educação. Chegou a hora de dar um basta nesta situação.

salene leite disse...

Concordo com a Amanda quando ela diz que não é uma heroína, ela teve uma boa formação, continua sendo politicamente ativa, estuda e sabe quais são suas lutas, prioridades e não se assusta com elas, enfrenta-as com dignidade.Porém ela sozinha não conseguirá nada, há muita acomodação sim por parte dos professores, muitos estão ano-luz aquém de sua realidade.E se a Educação Brasileira está assim,temos sim nossa parcela de responsabilidade.

A Paideia disse...

50% do PIB já !Pois o Analfabetismo é realidade na vida dos deputados eleitos deste país.10% é muito pouco ainda Amanda.Mas fico pensando que tanto dinheiro nas mãos erradas seria trágico também.

diego braga disse...

Os 10% do PIB para a educação já, pelos quais lutam profissionais de educação e alunos de todo país, representados na sua figura, Amanda, são fundamentais para melhorias urgentes na educaçao, um dos aspectos de uma sociedade mais justa e livre. São um passo imprescindível na luta por uma sociedade onde possamos ter a educação que realmente queremos: uma sociedade socialista. Sua luta também reflete esta necessidade de milhões de trabalhadores em todo o mundo! Estamos juntos, professora!

Tânia de Martino Salim disse...

Amanda,parabéns por esta importante trincheira de luta
na conquista da revalorização do espaço do professor na sociedade!Sua liderança é muito significativa para o movimento pela educação em nosso país. Esta se encontra tão desqualificada que estamos mais uma vez, como o Sísifo do mito, recomeçando a rolar a pedra montanha acima! Acredito firmemente que juntos conseguiremos tirar a educação do atoleiro e levá-la ao cume, plena, límpida, cristalina e cumprindo o papel que o nosso povo merece. Merecimento este com dupla conotação:porque paga por ela e por sua dignidade como ser humano que está na base do caminho trilhado por todos aqueles que constroem esta nação.

Parabéns também à profa. MARA REGINA, do município do RJ, pelo excelente video.
Tania de Martino Salim (profa. aposentada do Estado do RJ)

Tânia de Martino Salim disse...

Errata
Desculpem, no comentário anterior foi suprimido um trecho:
Merdecimento (...) ser humano. Lembrando-nos sempre que o professor está na base do caminho trilhado por todos aqueles que constroem esta nação.

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