gustavo

3 de junho de 2011

Leia entrevista no Jornal Estado de Minas

Professora do Rio Grande do Norte que virou celebridade na internet faz palestra em Belo Horizonte e diz que ficou assustada com a repercussão do discurso pró-educação

Por Alessandra Mello e Amanda Almeida
Jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte (MG)


Amanda Gurgel participa de debate com
alunos e professores da Universidade
Federal de Minas Gerais
(beto novaes/em/d.a press)
Um vídeo postado há cerca de 20 dias na internet mudou a vida de Amanda Gurgel, de 29 anos, uma professora de língua portuguesa da rede pública do Rio Grande do Norte, filiada a um partido de extrema-esquerda, o PSTU. Durante os nove minutos de duração do vídeo, Amanda discorre de maneira serena, porém contundente, sobre a dura realidade da educação no Brasil, assunto que todos conhecem direta ou indiretamente, pois mesmo quem nunca estudou em uma escola pública conhece alguém que estudou ou leciona na rede municipal ou estadual de ensino. As imagens foram gravadas durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte que discutia a situação dos professores em greve há um mês.

Sem ensaiar sua fala, Amanda conta que ouviu atentamente todos os discursos, inclusive o da secretária de Educação do estado, Bethania Ramalho, que discorria um rosário de números para justificar a baixa remuneração dos professores no estado. “Resolvi então usar também um número irrefutável: o meu salário de R$ 930.” A fala da professora foi parar na internet graças a um desconhecido que gravou seu depoimento. No dia seguinte já era o assunto do dia nas redes sociais, chegando a figurar entre os temas mais comentados do site de microblogs Twitter no Brasil.

O vídeo de Amanda já foi visto por mais de 1 milhão de pessoas e a professora, desde então, roda o Brasil defendendo a melhoria dos investimentos na educação no Brasil. Já deu entrevistas para diversas emissoras de televisão e recentemente foi destaque em um badalado programa de auditório exibido aos domingos. Ontem, ela esteve em Belo Horizonte e falou para alunos e professores. Por onde passava, a potiguar era saudada, dava autógrafos, posava para fotos. “Nunca esperei que meu depoimento causasse essa repercussão. Até porque não falei nenhuma novidade”, comenta a professora, que admite ter ficado assustada com tamanha repercussão. “Quem podia imaginar que uma militante de esquerda ia ser aplaudida de pé em um programa de auditório, onde todo mundo bate palma só para bobagem, ao defender as greves de professores como instrumento para a melhoria da qualidade de educação.”

Amanda também contou que antes de virar uma espécie de heroína nas redes sociais não sabia nem mesmo o que era o Twitter, o microblog responsável pela propagação de seu vídeo. “Achava que era apenas um estrangeirismo ligado à internet.” Depois do sucesso, passou a ser a adepta número um das redes sociais. “Meu perfil no Twitter é @amandagurgel930, referência a meu salário de apenas três dígitos”, brinca a professora. Questionada sobre uma possível candidatura a deputada federal em 2014, a professora garantiu não ser esse seu principal objetivo. “O PSTU não é um partido que se preocupa com cargos eletivos. Nossa preocupação maior é a mobilização do trabalhador para garantir vida digna para todos.” Criada em 1990 a partir da fusão de correntes socialista que romperam com o PT, a legenda não tem até hoje nenhum representante no Congresso Nacional.

Durante quatro horas Amanda debateu com professores e estudantes na Universidade Federal de Minas Gerais e conversou com os professores no sindicato da categoria. Em todas as oportunidades, faz relatos semelhantes ao que apresentou na Assembleia. “Quando me formei não estava incluído no meu sonho de ser professora morar em uma periferia e dar aula em outra. Também não estava incluído ter de pegar três ônibus precários para chegar ao local de trabalho e ainda ter de levar uma quentinha na bolsa por falta de dinheiro para almoçar. Mas hoje, mais do que nunca, quero continuar sendo professora”, afirma Amanda, atualmente afastada da sala de aula. Com problemas de saúde por causa do excesso de carga horária, ela trabalha na biblioteca e no curso de informática das duas escolas aonde lecionava até o ano passado.

Contra o tom de desânimo da maioria, a professora deixou um dever de casa: mobilização. “Temos de transformar essa angústia em ação”. Segundo ela, a repercussão causada pelo seu depoimento tem de ser aproveitada por todos que militam pela melhora da educação, não importando se dentro de um partido político ou em uma associação de pais de alunos. Uma das principais bandeiras de Amanda é aproveitar a popularidade para trazer para o debate a reivindicação dos professores: a imediata destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para a educação. A proposta atualmente em debate prevê o aumento progressivo do cerca de 1% aplicado na educação para 7% até este ano, chegando a 10% somente em 2014. “Nossa campanha agora é conseguir 10% do PIB, já, para a educação.”


Entrevista / Amanda Gurgel

O que mudou na sua vida depois de o vídeo ter se espalhado na internet?
Do ponto de vista estrutural, a minha vida não mudou nada, porque continuo recebendo o mesmo salário. A gente está em greve no Rio Grande do Norte, há 30 dias, e ainda não temos proposta da governadora, que está em reunião hoje (ontem) com o ministro da Educação. Agora, a minha rotina está temporariamente alterada, por causa dos convites que estou recebendo dos sindicatos do Brasil inteiro, solicitando a minha presença para animar as greves e atos públicos. Tenho procurado atender, na medida do possível. Não tem sido tão fácil assim, porque continuo trabalhando na rede municipal. Estou precisando negociar com meus colegas para que me substituam.

Qual foi a reação deles ao seu sucesso? Têm colaborado?
Eles estão sendo supersolidários e eufóricos. Eu e os colegas da escola estamos entendendo a importância desse momento justamente para fazer a articulação em nível nacional, em defesa da educação. Eles dizem que agora as pessoas do Brasil todo estão sabendo o que a gente já sabia (sobre a luta dela pela categoria). Desde que entrei para a profissão, luto pela defesa dos trabalhadores. As pessoas estão sabendo agora. Mas aquela fala na Assembleia do Rio Grande do Norte é uma fala de rotina. É o que digo em assembleias de greve.

Por que a repercussão foi maior agora?
Em audiência pública, diretamente para os deputados, ainda não tinha falado. Esse é um dos elementos: ter me dirigido diretamente aos políticos. O outro é o quadro de crise mesmo da educação, que a gente vive. As pessoas estão se identificando com o problema. Essa é a realidade da educação no país inteiro e a gente não tinha essa dimensão. A gente sabia por números, como o do analfabetismo, mas é diferente quando o problema ganha um rosto. Quem são esses trabalhadores e esses alunos? Essas pessoas existem e não são números. Acho que o impacto foi esse: a crise da educação ganhou um rosto.

E seus alunos? Qual foi a reação deles?
Eles são ótimos. ‘Professora, você não mandou um beijo para mim’. Eles querem que, onde eu chegue, mande um beijo para eles, para o Amadeu Araújo (aluno), para fulano e fulano. Querem que mandem beijos para todos. Mas eles não compreendem exatamente o que é isso. Têm mais a dimensão de ‘a minha professora está famosa’. Não compreendem a importância do momento, porque são crianças e pré-adolescentes. Estão eufóricos e gostando do jeito deles.

As pessoas estão te reconhecendo na rua? Estão te pedindo autógrafo?
Em todas as partes que vou. Todas dão total apoio e se sentem representadas. Sempre tem alguém para dizer ‘Olhe, a minha mãe é professora e ela diz que é assim mesmo que você disse’ ou é a irmã que também é professora, ou a amiga, ou a tia. Desejam força e são solidários. A primeira vez que dei autógrafo foi muito engraçada. Eu disse ‘Você está brincando’. E a pessoa, um professor de Fortaleza, retrucou: ‘Eu preciso, quero mostrar para os meus colegas de escola que não acreditaram que eu te veria’. Eu disse: ‘Não, eu sou uma professora igual a vocês’.

1 comentários:

Edvaldocs disse...

Estamos juntos nesta luta Amanda.
Edvaldo da C. Santos

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