Olá gente! Abaixo posto um artigo meu que foi publicado ontem, dia 27, no Diário de Natal. Abraço a tod@s.
No dia 12, o ministro Fernando Haddad esteve em São Bernardo do Campo, em disputa pela prefeitura de São Paulo. Ele e Lula foram abordados por estudantes e professores, em campanha pelos 10%. Mas a recepção maior veio das crianças, que lotaram o auditório para ouvir histórias contadas pelos dois.
Nada disso me impressionou. Mas me chamou a atenção uma das histórias escolhidas pelo ministro, a do livro “A Professora Encantadora”. Haddad lendo um livro sobre uma professora... Sou curiosa. Fui atrás, até conseguir o livro (que, aliás, recomendo).
O texto é a homenagem do autor, Márcio Vassalo, a uma de suas professoras, que despertou nele a paixão pelo texto, a descoberta da leitura e da escrita. A professora Maísa encantava seus alunos, e os levava para outro universo, de sonho e fantasia. Transformava a sala de aula em uma experiência única – chegando a colocar na porta uma placa: “Não interrompa, estamos suspirando”.
O livro é uma bela homenagem aos professores. Valoriza aquilo que cada uma de nós levamos conosco, o que nos fez escolher a profissão. E que nos faz atravessar a cidade de uma escola a outra, para começar a oitava aula como se o dia estivesse começando.
Me perdoe, Haddad, mas um livro desses não poderia jamais estar sendo lido para as crianças pelo Ministro da Educação. Não combina. Um governo que investe menos de 3% do Orçamento na educação não pode homenagear o professor. Só se for como mártires...
O livro tem um trecho muito bonito, sobre a professora e perguntas “que desdobram a gente por dentro”. Eu também tenho uma pergunta que me desdobra por dentro, desde que soube da leitura: ministro, você acha mesmo que não tem nenhuma responsabilidade no caos da educação? Claro que tem, Haddad. Se você quisesse, poderia mudar, junto com Dilma, o investimento em educação pública para 10% do PIB já, ao invés de 7% para 2020, como prevê o novo PNE do governo.
Soube depois que o ministro só leu um trecho do livro. Tanto faz. Na verdade, quando os governantes nos fazem esse tipo de homenagem, elogiam nossa vocação e persistência, desconfie. Com a homenagem, está a ideia de que vocação é suficiente. Basta a vontade, desejo, paixão, talento, para superar todos os desafios e conquistar os alunos, transmitir o conhecimento necessário para que transformem suas vidas.
Quando o ministro nos elogia, parece dizer que isso é o bastante. Como se talento fosse capaz de superar todas as dificuldades. Para que falar de coisas chatas, como salário, verbas, condições de trabalho, biblioteca? Para que se preocupar se as professoras saberão passar por cima disso tudo com superpoderes?
É preciso todo o cuidado com esse discurso fácil. Levado ao extremo, ele vira frases como a do governador do Ceará: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário”. Ou seja, é a ideia de que professoras conseguirão continuar encantadoras, mesmo trabalhando apenas por amor.
Infelizmente, não é o que tem acontecido por aí. Por culpa dos governantes e, é sempre bom lembrar, de seus ministros.
5 comentários:
Pode até ter sido linda a leitura de Haddad. Mas não é essa a função dele!
Homenagear os professores é bom! Melhor ainda e entender as dificuldades que eles passam com investimento baixo que temos na educação aqui no Brasil.
Concordo! Isso é balela pra parecer que ele está apoiando os professores. Se ele apoia e admira mesmo o trabalho dos professores, então ajude-os. Tem que ser mais realista e trabalhar para resultados reais. Discurso não sustenta ninguém, não paga conta de ninguém.
10% do PIB JÁ!
A leitura do ministro pega carona na atualidade, em tudo que foi noticiado a respeito dos professores, começando por você, Amanda; é muito oportunismo!é campanha politica pura!
De bonzinho e cordial esse ministro não tem é nada.Querendo introduzir na mente dessas crianças um mundo mágico da sala de aula, onde a professora é uma fada madrinha, que tudo transforma com um passe de mágica. Me poupe ministro! Onde está seu compromisso com a realidade da educação do Brasil, será que está no mundo imaginário do Boby? Nós professores lamentamos seu propósito ao ler esse livro para crianças que sentem na pele todo o descaso com que os senhores governantes tratam a educação.
Taí, tô emocionado, um ministro mostrar para as crianças do nosso Brasil Guaranil que sabe ler, vai ver que sabe escrever também? Pois Pedro Álvares Cabral teve que pedir p'ro Pero Vaz de Caminha, fazer uma carta p'ro rei de Portugal,por que não sabia ler nem escrever,pra contar da invasão,digo, do descobrimento,tamos avançando, a gente chega lá!!!
Olá Professora Amanda!
Em setembro último, estive em Brasília em atividade com a faculdade (estou terminando o curso de graduação em Gestão de Políticas Públicas na Usp) e fomos recebidos para uma palestra com o Ministro da Educação, Fernando Haddad. Eu, bocuda como sou (sempre indignada e inquieta) quis fazer uma fala para o Ministro, questionando sobre alguns temas importantes da política educacional brasileira e fazendo um desabafo muito verdadeiro sobre a situação dos professores em sala de aula.
Como eu poderia estar frente a frente com a autoridade máxima em educação no país e não dizer nada sobre os anseios das bases? Eu, que sempre falo um monte por aí não poderia me calar diante de uma situação dessas!
Foi assim que, bastante nervosa e emocionada, fiz esse desabafo e questionamento ao nosso Ministro. Pensei muito em todos os professores,pessoas que me acompanharam e me ensinaram muito durante toda a minha vida profissional,amigos envolvidos com as questões educacionais,lutando pela causa de qualquer forma que seja.
A resposta do ministro não contemplou tudo aquilo que gostaríamos de ouvir, mas fazê-lo ouvir o sermão de uma professora, fazê-lo ouvir inesperadamente os anseios de quem realmente está na base já foi bastante gratificante pra mim.
Dia 15 de outubro foi o dia dos professores. Ainda somos as "peças- chaves" de uma verdadeira mudança na educação brasileira. Eles não podem se esquecer de nós! Não podemos deixar que esqueçam!!!
Não represento nada e nem ninguém; sou só uma professora desesperada por injeções de ânimo e esperança. Quero chamar a atenção para a importância de uma nova maneira de enxergar, tratar, valorizar o professor.
Estamos sempre ouvindo por aí o quanto toda a sociedade e as classes dirigentes são sensíveis e apóiam as nossas causas, dificuldades e reivindicações, mas no fim das contas, estamos cada vez mais exaustos de ver nosso trabalho sendo inferiorizado, e sermos massacrados nas nossas salas de aula pela falta de estrutura e pelo descaso das autoridades políticas com a nossa situação. Ainda lemos e acompanhamos pela mídia uma certa
"responsabilização" que nos cai sobre o fracasso do sistema escolar
(aquele que convivemos diariamente e lutamos com unhas e dentes para conter e superar).
Nós somos vitoriosos, mas não podemos ser heróis e heroínas de um sistema fadado ao fracasso. Somos a ponta mais fraca da corda, mas aquela que ainda mantém o guindaste em pé.
FELIZ DIA DOS PROFESSORES!
Gostaria que você, professora Amanda e demais colegas que visitam esse blog assistissem o vídeo!
Podem me escrever no facebook:
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ou email: carlu@usp.br
Obrigada!!!
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