gustavo

26 de setembro de 2011

Irresponsabilidade é não investir em educação

Sala de aula em escola de Ceará-Mirim/RN
No dia 16 de setembro, em um evento de comemoração aos cinco anos da Universidade Federal do ABC. Ao lado do ministro Fernando Haddad, Lula disse que era uma irresponsabilidade defender o investimento imediato de 10% do PIB na educação pública do país. Fiquei muitíssimo chocada, não apenas pelo conteúdo da declaração, mas principalmente pelo fato dela ter partido de um ex-presidente da República que foi trabalhador, sofreu com a pobreza e que com certeza enfrentou dificuldades relacionadas à educação pública. Lamento bastante pela infeliz declaração de Lula. Tenho que dizer que discordo veementemente dele e acho que temos visões diferentes sobre os conceitos de responsabilidade e irresponsabilidade.

Do meu ponto de vista, de alguém que vive o cotidiano das escolas, digo o que é absurdamente óbvio: irresponsabilidade é permitir que as escolas públicas continuem na miséria em que estão hoje, com salas de aula pequenas e sem ventilação, com insuficiência de vagas, carteiras e material didático. Com refeitórios, bibliotecas e laboratórios de informática precários. Sem falar na estrutura física dos prédios, que muitas vezes coloca em risco a vida dos educadores (as) e alun@s, como foi o caso de uma escola no município de São Tomé (a 100 km de Natal), onde a parede de uma sala desabou sobre a professora e @s estudantes, em março deste ano. Para mim, ser irresponsável com a educação é não garantir merenda escolar de qualidade a tod@s @s alun@s durante um ano letivo inteiro. Também não acho nada responsável permitir que crianças sejam transportadas para suas escolas em caminhões pau de arara, justamente porque não existe transporte escolar adequado. Além disso, é uma grande irresponsabilidade pagar salários baixíssimos aos professores (muitas vezes nem o piso), obrigando-os a ter que duplicar ou triplicar a jornada para sobreviver.

Todos esses problemas já são conhecidos por nós, educadores (as), há muito tempo. Convivemos há décadas com o descaso e o abandono da escola pública e sabemos que esta situação não é culpa nossa, mas dos governantes, a começar pelos presidentes. É deles (as) a responsabilidade ou irresponsabilidade pelo cenário caótico da educação e pelo futuro de nossa juventude. São eles (as) que decidem para onde vão os recursos gerados pelos nossos impostos e por nosso trabalho. É por isso que acho que irresponsabilidade foi o que fizeram os governos nos últimos 20 anos neste país, inclusive o governo do ex-presidente Lula, que só no ano passado destinou 44,93% (R$ 635 bilhões) do Orçamento da União para o pagamento dos juros da dívida pública aos banqueiros, enquanto a educação recebeu apenas 2,89%*. É como se pegassem metade do nosso salário e entregassem para agiotas. Entretanto, não foi só Lula o irresponsável nesse período. O governo de Fernando Henrique, além de não aumentar os investimentos em educação pública, vetou a aplicação mínima de 7% do PIB no setor, prevista no último PNE.

Definitivamente, investir 10% do PIB em educação pública imediatamente não é uma atitude irresponsável. É justamente o contrário. Não investir esse percentual além de ser uma grande irresponsabilidade é também a comprovação do desprezo de consecutivos governos, inclusive o de Lula e o de Dilma, pela educação. Sinto muito, mas irresponsabilidade é, por exemplo, continuarmos exibindo a constrangedora marca de mais de 14 milhões de analfabetos no Brasil. Aplicar de imediato 10% do Produto Interno Bruto é o primeiro passo para avançarmos na resolução dos problemas enfrentados pelas escolas públicas, seus/suas profissionais e alun@s. Neste momento, a decisão está nas mãos da presidente Dilma, que pode escolher entre manter a irresponsabilidade com a educação ou assegurá-la como “direito de todos e dever do Estado”, como prevê a nossa Constituição.

*Fonte: auditoria cidadã: http://www.divida-auditoriacidada.org.br/config/artigo.2011-03-02.0541123379/document_view

Se você defende a educação pública e acredita que o Brasil precisa investir imediatamente 10% de seu PIB (Produto Interno Bruto) nesse setor, então não deixe de participar dessa campanha nacional. Assine você também nosso abaixo-assinado e junte-se a nós pelos 10% do PIB Já!

8 comentários:

Julio disse...

A Dilma não vai fazer isso, não é de interesse dela investir em educação...

Lady Sybylla disse...

Governo nenhum tem interesse em investir em educação pois isso minaria a fonte do poder deles, que é a ignorância do povo. Quanto menos o povo reclamar, melhor para a elite política que se manterá no poder com a continuidade dos verdadeiros clãs que existem hoje no governo.

PSTU disse...

LULA SABE MUITO BEM O QUE QUEREMOS; O PROBLEMA É ELE MUDOU DE LADO.

Lulu disse...

Oi Amanda, gostaria de contactar com vc.
Lulu, UERN/Pau dos Ferros/RN

Política Eu Sei Que Vou Ter Que Te Amar disse...

Amanda, nessa guerra temos que nos aliar a outros poderosos, que, com sua influência, irá fazer com que os governos repensem e apliquem os 10% do PIB por pressão politica. Quem poderá nos servir de aliado? Se o Ex-presidente Jose Alencar ainda estivesse conosco...

PSTU disse...

Nessa guerra temos que aliar a outros poderosos? Nada disso temos que construir um outro poder.

Henrique Lima disse...

Nossa...

Quer mais absurdo? Leu a matéria de Gustavo Ioschpe na revista VEJA edição 2238 - ano 44 - nº41?? Intitulada "O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de reais"?

Nesta, ele critica o grande número de professores que estão contratados atualmente que geram um rombo na educação. Critica também o poder político que esse grupo de professores causa em suas manifestações barulhentas e as contratações desnecessários de professores que são frequentemente usados como instrumento político de padrinhos.

Algumas frases ainda:

"... o salário médio mensal do professor de rede pública é de 2.262 reais. Cuidado com os discursos do pessoal que fala do "salário de fome"...

"...a patética pregação para aumentar o valor investido em educação dos atuais 5% do PIB para 7%..."

"Não ocorre a ninguém que custa pouco o que realmente melhora o ensino: reformular os cursos universitários de formação de professores, profissionalizar a gestão das escolas, adotar um currículo nacional, permitir a criação de novas modalidades no ensino médio, melhorar o material didático e cobrar a utilização de práticas de sala de aula comprovadamente eficazes."

Twitter dele:
http://twitter.com/#!/gioschpe

wilton prof disse...

trecho de meu cordel protesto:

educar é perigoso
pois educação liberta
o povo tem que ser burro
só a elite esperta
para dar ao candidato
a vitória sempre certa

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